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Sobre

« Por trás dos grandes vestígios sensíveis da paisagem,
por trás dos escritos aparentemente mais insípidos e as instituições
aparentemente mais desligadas daqueles que as criaram,
são os homens que a história quer capturar.
Quem não conseguir isso será apenas, no máximo, um serviçal da erudição.
Já o bom historiador se parece com o ogro da lenda.
Onde fareja carne humana, sabe que ali está sua caça.
»

— Marc Bloch, «Apológia da História».

A História não é — se faz. E não raro são ínvios os caminhos que aproximam no horizonte a convergência do ser com o dever-ser históricos. Entre ambos, opõem-se uma miríade de métodos, escolas e doutrinas. Mas o pesquisador que não sucumbe no primeiro combate — que ultrapassa a vaga multiforme das referências acumuladas sob o terreno dos séculos —, é premiado com o deslumbre, ainda que fugaz e precário, do conhecer, do descobrir, do entender. Mais que isso — do criar.

Brasil Brasis nasceu sob o duplo signo da paixão e da descoberta. 

Paixão pelo Brasil — paixão pela sua gente e história. Pela descoberta na revelação gratuita dos fatos singulares, dos acontecimentos fortuitos e daquelas pérolas descobertas na poeira que, limpas, rebrilham o sabor do inédito. Desde cedo afeiçoei-me aos papéis antigos. Fiz-me, como Oliveira Lima, um amigo dos livros, e mais— dos arquivos e alfarrábios; das histórias contadas e recontadas de família; das fotos em preto e branco e dos álbuns ancestrais. A partir deles criei e recriei universos, que, senão eram reais, eram factíveis e realizáveis. Descobri que História também é imaginação e criatividade.

Se é correto afirmarmos que as obras de ficção materializam um sonho dirigido, a História é a realidade do concebível e do provável. Concebível porque estamos submetidos a um tempo diverso da sua consumação, tempo do qual conhecemos diluída e fragmentariamente nas fontes históricas. E provável porque não estamos habilitados — como historiadores —, a pensarmos o que poderia ter sido, senão o que se sucedeu efetivamente. 

Mas é dessa limitação — diria genética — que a História encontra sua riqueza e dignidade. Porque é apenas pela fiel dedicação à honra de estarmos vivos que podemos nos aproximar do passado. Se nos chegasse senão o caos, a sucessão aleatória de acontecimentos desconexos, nada haveria de investigarmos, buscarmos — sobretudo descobrirmos. Mas não. Desde o imemorial recorremos ao passado e suas reminiscências, sejam aquelas sangradas nas pedras do Rio Poti ou nos padrões litorâneos fincados pelo colonizador português.

Buscamos alcançar, entregues à sedução da bruma antiga, alguma lucidez sobre o presente — uma luz; um fiat; um verbo de compreensibilidade. Desse desejo de conhecer e descobrir e criar, de ter como nossa a História que nos foi cedida para guardarmos respeitosamente e em memória da carne que outrora fora viva, sedimentou em mim o plano deste projeto. 

No âmbito da historiografia, alinhamo-nos aos construtores: Oliveira Lima, Joaquim Nabuco, Tarquínio de Souza, Tobias Monteiro, Rocha Pombo, Adolfo de Varnhagen, Heitor Lyra, Pedro Calmon, Rio Branco, Tasso Fragoso, João Camilo de Oliveira Torres, José Honório Rodrigues e tantos outros autores que pensaram nosso Brasil. 

Autores, sobretudo, que pensaram nossa nacionalidade — e viveram por nossa história